Reverendo Jesse Jackson, o mais importante líder negro do século XXI na América – by Vida Afro

Jesse Louis Jackson, Sr. (nascido a 8 de outubro de 1941), é um ativista americano dos direitos civis e pastor batista.  Foi candidato à presidência pelo Partido Democrático em 1984 e 1988.  Fundou as entidades que se fundiram para formar o Rainbow/PUSH.  Numa enquete da AP-AOL, “Vozes Negras”, em fevereiro de 2006, Jackson foi votado como “o mais importante líder negro”, com 15% de votos.
Juventude
Jackson, ao nascer, recebeu o nome de Jesse Louis Burns.  Sua cidade natal é Greenville, Carolina do Sul.  É filho de Helen Burns, mãe solteira, que tinha 16 anos quando ele nasceu.  Seu pai biológico, Noah Louis Robinson, ex-boxeador profissional e figura de destaque na comunidade negra, era casado com outra mulher, quando Jesse nasceu.  Ele não se envolveu com a vida do filho.  Em 1943, dois anos após o nascimento do menino, sua mãe casou-se com Charles Henry Jackson, que adotaria Jesse quatorze anos mais tarde.  Jesse passou a assinar o sobrenome do padrasto.
Estudos
Jackson frequentou a Sterling High School, um estabelecimento de ensino segregado em Greenville, onde se destacou nos esportes.  Após formar-se em 1959, rejeitou o contrato de um time profissional de beisebol para poder matricular-se na Universidade de Illinois, racialmente integrada, na qual conseguiu uma bolsa.  Entretanto, daí a um ano, Jackson transferiu-se para a North Carolina A & T, localizada em Greensboro, Carolina do Norte.  Há diferentes versões relativas a essa transferência.  Jackson alega que a mudança foi motivada pelo viés racial da escola, que incluiu o fato de que ele não podia jogar na posição de zagueiro, apesar de ter sido uma estrela quando cursou o secundário.  O site ESPN.com sugere, entretanto, que alegações de discriminação racial no time de futebol podem ter sido exageradas, pois o zagueiro de Illinois, naquele ano, era um afro-americano, embora não mencione outros fatores que não a cor do zagueiro, o que pode ter contribuído para essa percepção – por exemplo, a dinâmica do time ou as interações com outros jogadores da equipe. Jackson também alega ter sido preterido por seu professor de dicção num concurso público de oratória, apesar do apoio dos colegas de uma das equipes participantes, que o elegeram devido a seus dons e talento. 
Jackson abandonou Ilinois no final do segundo semestre e após formar-se na A& T, matriculou-se no Seminário Teológico de Chicago com a intenção de tornar-se pastor, mas desistiu em 1966, para dedicar-se em período integral ao movimento dos direitos civis. Foi ordenado em 1968, sem obter o diploma em teologia, mas foi-lhe conferido o doutorado honorário em teologia em 1990, em Chicago.  Recebeu em 2000 o grau de mestre (Divinity Degree) com base nos créditos anteriores, além de sua experiência de vida e em seu trabalho subsequente.
Família
Jackson desposou Jacqueline Lavinia Brown, nascida em 1944, em 31 de dezembro de 1962 e tiveram cinco filhos: Santita (1963), Jesse Jr. (1965), Jonathan Luther (1966), Yusef DuBois (1970) e Jacqueline Lavinia (1975).
Em 2001 divulgou-se que Jackson tivera um envolvimento com Karin Stanford, que trabalhava em sua equipe, do qual resultou uma filha, Ashley, nascida em maio de 1999.  De acordo com a CNN, em agosto de 1999 a Coalização Rainbow Push havia pago a Karin Stanford 15 mil dólares para atender despesas de mudança e 21.000 dólares por trabalhos contratados.  A promessa de um adiantamento de mais 40.000 dólares, relativa a uma futura contratação, não foi levada adiante, tão logo o relacionamento tornou-se público. Esse incidente levou Jackson a afastar-se do ativismo durante um breve período.  Atualmente Jackson paga quatro mil dólares mensais de pensão a esta sua filha.
Ativismo em favor dos direitos civis
Jackson fala em um programa de rádio, na sede da Operação PUSH (Povos Unidos para Salvar a Humanidade), por ocasião de sua convenção anual, em julho de 1973. 
Jackson rodeado de manifestantes com cartazes em apoio à Lei Hawkins Humphrey, exigindo pleno emprego, janeiro de 1975.
Em 1965 Jackson participou das marchas de Selma a Montgomery, organizadas por James Bevel, o dr. Martin Luther King Jr. e outros líderes de direitos civis, no estado de Alabama.  Ao retornar de Selma, ele aderiu aos esforços do SCLC no sentido de estabelecer uma cabeça de ponte na Conferência dos Cristãos Sulistas Sobre a Liderança (SCLC), em Chicago.
Em 1966 King e Bevel escolheram Jackson para ficar à frente da Operação Breadbasket, promovida pela SCLC em Chicago.  Essa organização promoveu-o à direção nacional, em 1967.  Seguindo o exemplo do reverendo Leon Sullivan, de Filadélfia, o objetivo fundamental do novo grupo era promover as “compras seletivas” (boicotes) como um meio de pressionar empresas de propriedade de brancos a contratar negros e a adquirir bens e serviços de fornecedores negros.  Um dos precursores de Sullivan foi o dr. T. R. M. Howard, rico médico e empresário de South Side, o principal contribuinte da Operação Breadbasket.  Antes de mudar-se do Mississipi para Chicago, em 1956, Howard, como dirigente do Conselho Regional da Liderança Negra, havia organizado, com muito sucesso, um boicote contra postos de gasolina, que se recusavam a disponibilizar banheiros para negros.
Quando Martin Luther King Jr. foi assassinado em 4 de abril de 1968 em Memphis, Tennessee, um dia após seu famoso discurso “Estive no alto da montanha” em Mason Temple, Jackson encontrava-se no estacionamento, um andar abaixo.  A participação de Jackson no Show do Dia, da NBC, usando a mesma blusa de gola alta, manchada de sangue, que vestira no dia anterior, motivou críticas por parte de vários auxiliares de King.  Alguns associados de King também contestam a descrição de Jackson sobre seu envolvimento pessoal e a sequência de acontecimentos ocorridos em torno do assassinato de King.
Jackson é conhecido por monopolizar a atenção do público desde que começou a trabalhar para King em 1966.  Seu objetivo primordial tem sido despertar nos negros o sentido de auto-estima. 
A partir de 1968 Jackson entrou em conflitos cada vez maiores com Ralph Abernathy, o sucessor de King na presidência da SCLC.  Em dezembro de 1971 a ruptura foi total.  Abernathy suspendeu Jackson devido a “impropriedades administrativas e repetidos atos de violação da política organizacional.”  Jackson pediu demissão, convocou seus aliados e a Operação PUSH nasceu durante aquele mesmo mês.  O novo grupo foi organizado na residência do dr. T. R. M. Howard, que se tornou membro da diretoria e presidiu o comitê de finanças.
Em 1984 Jackson organizou a Rainbow Coalition (Coalizão Arco-Íris) que se fundiu, em 1966, com a Operação PUSH.  A nova organização, no desempenho de seu papel, tornou-se eficaz e importante.  Al Sharpton também deixou a SCLC, em protesto, e formou o National Youth Movement (Movimento da Juventude Nacional).
Em março de 2006 uma mulher afro-americana acusou de estupro três membros brancos de uma equipe esportiva da Universidade Duke.  Durante a controvérsia que se seguiu, Jackson declarou que a Coalização Rainbow/PUSH pagaria, daí em diante, todos os estudos da acusadora, independentemente do desfecho do processo.  Mais tarde, levados a julgamento, os atletas foram declarados inocentes pela Procuradoria Geral da Carolina do Norte.
Em 1995 Jackson voltou a ocupar as manchetes ao escrever para a rede FOX, protestando contra um episódio da série Mighty Morphin Power Rangers, no qual um dos protagonistas, o “Guarda-Florestal Branco” pareceu apregoar as virtudes do “Poder Branco”.  Jackson retratou-se, mais tarde, mas a FOX censurou diálogos desse tipo em futuras transmissões.
Jackson exerceu papel fundamental por ocasião do escândalo provocado pelo comediante Michael Richard, que havia feito comentários de “preconceito pela cor negra” em novembro de 2006.  Decorridos alguns dias do incidente, Richards convocou Jackson para desculpar-se, o que ele aceitou. Eles se encontraram publicamente, como um meio de resolver a situação.  Jackson também se uniu a líderes negros, reivindicando a eliminação da palavra “Negro” na indústria do entretenimento. 
Posicionamento sobre o aborto 
Embora Jackson fosse um dos membros mais liberais do Partido Democrata, seus conceitos sobre o aborto estavam mais de acordo com as visões anti-aborto.  Certa vez ele apoiou a Emenda Hyde, contrária à subvenção a abortos praticados por mulheres de baixa renda através do programa federal de saúde Medicaid.  A esse respeito, escreveu um artigo publicado em 1977 pelo National Right to Life Comittee News:
“Existe quem argumente que o direito à privacidade é de ordem mais elevada do que o direito à vida… essa foi a premissa da escravidão.  Não se podia protestar contra a existência ou o tratamento dispensado aos escravos nas fazendas, pois era assunto privado e, portanto, não se tinha o direito de contestar tal situação.  O que acontece com a mente de uma pessoa e com o tecido moral de uma nação que aceitam abortar a vida de um bebê sem o menor escrúpulo?  Que espécie de pessoa e que espécie de sociedade teremos daqui há vinte anos, se a vida puder ser tirada com tamanha ligeireza?  É esta questão, a questão de nossas atitudes, de nosso sistema de valores, de nossas mentes voltadas para a natureza e para o valor da vida que constituem a questão fundamental com que a humanidade se defronta.  O fracasso em responder afirmativamente a tais questões pode transformar nossa vida na terra em um inferno.”
No entanto, desde então Jackson tem adotado uma visão mais aberta, favorável ao direito de escolha, acreditando ser fundamental o direito de uma mulher interromper a gestação, algo que não deve ser infringido de modo algum pelo governo.
Atividades políticas posteriores
Jackson candidatou pelo Distrito de Columbia como uma espécie de suplente de senador, quando esse cargo foi criado em 1991, atuando como tal até 1997, quando não se candidatou à reeleição.  Era um cargo não remunerado, que se destinava basicamente a fazer lobby em favor do Distrito de Columbia.
Em meados da década de noventa foi sondado para o cargo de embaixador dos Estados Unidos na África do Sul, mas declinou, pois preferiu dedicar-se à campanha de seu filho Jesse Jackson Jr., que se candidatou à Câmara dos Representantes.
Embora, no início, Jackson se mostrasse crítico da “Terceira Via” ou das políticas mais moderadas de Bil Clinton, ele tornou-se um aliado indispensável para a obtenção do apoio da comunidade afro-americana ao presidente e acabou se tornando íntimo conselheiro e amigo da família Clinton.  O presidente condecorou-o com a Medalha da Liberdade, a mais elevada honraria da nação concedida a civis.  Seu filho Jesse Jackson Jr. também se tornou uma personalidade política, sendo eleito para a Câmara dos Representantes como candidato por Illinois.  Em 2002 o acadêmico Molefi Kete Asante incluiu Jesse Jackson em sua lista dos 100 Maiores Afro-Americanos. Em 2003 Jackson surpreendeu muitos observadores, recusando-se a apoiar as campanhas de Al Sharpton ou da ex-senadora Carol Moseley Braun, os dois candidatos afro-americanos, que disputavam a indicação do Partido Democrata na eleição presidencial de 2004.  Em vez disso, Jackson ocultou suas preferências até quase o final das eleições primárias, quando permitiu que o representante de Ohio, o democrata Dennis Kucinich, outro candidato à presidência, discursasse numa assembléia do Rainbow/PUSH, em 31 de março de 2004.  Embora não manifestasse preferência declarada pelo republicano Kucinich, ele o descreveu como alguém que assume o pesado encargo de dizer “você é quem faz mais sentido, porém não pode vencer”.  Jackson também escreve para a publicação The Progressive Populist.
Jackson foi alvo da conspiração terrorista dos suprematistas brancos, em 2002.
Eleição presidencial de 2004
Jackson reuniu informações e apoios para investigar a controvérsia em torno da eleição presidencial de 2004, particularmente os resultados dos votos em Ohio e sua recontagem.  Solicitou um debate no Congresso sobre a questão, pedindo uma apuração justa e a adoção de padrões nacionais de votação, afirmando que as eleições nos Estados Unidos são conduzidas adotando-se diferentes padrões em diferentes estados, sendo marcadas por artimanhas partidárias, viés racial, uma incompetência disseminada e constituem indisfarçável escândalo.
Jackson declarou ter alguma esperança de que na eleição de 2004 poderia ocorrer uma reviravolta, embora reconhecendo suas dúvidas.  Comparou as irregularidades na votação de Ohio com as da eleição presidencial da Ucrânia, em 2004.  Declarou que se Ohio fosse a Ucrânia, a eleição presidencial americana não teria sido avalizada pela comunidade internacional.  Afirmou que Kenneth Blackwell, Secretário de Estado de Ohio, não era isento e que podia muito bem ter sido pressionado pelo presidente George W. Busch e pelo vice-presidente Dick Cheney a fim de entregar Ohio ao Partido Republicano.
Baseando-se em informações obtidas em diálogos conduzidos pelo republicano John Conyers e descobertos durante a fracassada recontagem de votos por ocasião da eleição presidencial em Ohio, solicitada por David Cobb, candidato do Partido Verde, e por Michael Badnarik, candidato do Partido Libertário, Jackson sugeriu que os mecanismos da eleição em Ohio eram “manipulados” e que alguns eleitores afro-americanos foram forçados a ficar numa fila debaixo de chuva, durante seis horas, até votar.  Quando lhe foram pedidas provas, Jackson não apresentou fatos, mas declarou: “Baseio-me na desconfiança do sistema, na anomalia das pesquisas eleitorais, na falta das listas de apuração.”
No dia 6 de janeiro de 2005 a equipe da Comissão Judiciária dos Democratas, na Câmara dos Deputados, publicou um relatório de cem páginas sobre a eleição em Ohio.  Esse desafio à eleição foi rejeitado por 74 votos contra e 1 a favor pelo Senado dos Estados Unidos, e por 267 contra e 31 votos a favor pela Câmara dos Deputados.  Muitos democratas pertencentes à alta hierarquia do partido preferiram distanciar-se do debate, incluindo John Kerry, embora Jackson solicitasse pessoalmente sua ajuda.  Ainda assim, prosseguiu o apelo por uma reforma da legislação eleitoral e pela proteção aos direitos do eleitor.
A questão Terri Schiavo
No início de 2005, Jackson visitou os pais de Terri Schiavo e apoiou seu mal sucedido esforço de mantê-la viva.
Protesto contra armas de fogo e prisão
Em 23 de junho de 2007 Jackson foi preso devido a uma manifestação diante de uma loja que vendia armas em Riverdale, bairro pobre da periferia de Chicago, Illinois.  Jackson e outros protestavam contra o fato de que a loja, segundo se propagava, vendia armas de fogo a membros de uma gangue local e estava assim contribuindo para a decadência da comunidade.  De acordo com os relatórios da polícia, Jackson se recusou a parar com o bloqueio da loja, impedindo os fregueses de entrar.  Ele foi acusado de atentado à propriedade privada.
Eleição presidencial de 2008
Em março de 2007 Jackson declarou seu apoio ao então senador Barack Obama, por ocasião das eleições primárias do Partido Democrata. Mais tarde, ainda em 2007, criticou Obama por “agir como se fosse branco”, em reação a um episódio de espancamento, conhecido como Jena 6.
Em 6 de junho de 2008, durante uma entrevista para a Fox News, ouviu-se Jackson dizendo baixinho ao dr. Reed Tuckson, outro participante: “Sabe, Barack tem se referido em tom depreciativo a negros… Quero dar um corretivo nele.  Jackson exprimia sua decepção com o discurso de Obama no Dia dos Pais, a seu ver um desaponto. Um porta-voz da Fox News declarou que Jackson “havia se referido aos pretos usando o termo negro”, em seus comentários sobre Obama.  A Fox News não divulgou o vídeo na íntegra nem uma transcrição completa dos comentários de Jackson. Mais tarde, após a entrevista, Jackson desculpou-se e reiterou seu apoio a Obama.
Em 4 de novembro de 2008 Jackson estava presente no comício realizado após a vitória de Obama, esperando que este aparecesse.  Durante vários momentos, antes que Obama discursasse, Jackson não conteve as lágrimas.

Publicado em 1 de outubro de 2013, em Na Historia, Negros Importantes. Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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